sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Reticências

Tão inesperado quanto começou
Acaba

Me jogo de corpo inteiro
No último suspiro da minha juventude
Até parece que sou o primeiro
A enfrentar a inquietude

Dessa a vida apenas se leva
Alguns momentos guardados no bolso
Dessa vida apenas se leva
O amor

E deixa correr essas lágrimas
Pra que lavem bem
E cuidem de não deixar
Nem uma mancha de remorso ou azar
Nem um rancor ou mal-entendido
Nada que possa ser perdido

Deixa que corram agora
Pra que depois
Anos após
Não sobrem mais lágrimas de saudade
Apenas o riso de euforia
De uma certeza de quem viveu
Uma vida bem vivida

terça-feira, 24 de novembro de 2009

.38

Vivemos sozinhos
Completamente abandonados
À deriva de tudo e de todos
Simplificados

Beijar o frio aço
Perder-se no espaço
Ver de longe toda a vida
Desatar mais um laço

Se de nós fez-se vida
De todos nós fez-se ilusão
Apenas a doce incerteza
Da beleza da solidão

Bandeira branca levantada
Logo no chão pisoteada
Tento escarrar a maldita boca
"Me beija, desgraçada" (rouca)

Somos o que fomos
Andando em círculos
Tolos fomos mais que somos
Seremos serenos
Tão... pequenos

Já não me resta saliva
E o esforço que faço
Mede quanto minha vida
Se perdeu no teu espaço
Infinito particular
Que espero encher
Com as bebidas que mais gostar

Beijar o aço
Perder-se no espaço
Me desfaço
Em mil pedaços

Despeço

Te peço

Sim.

Dia a Dia à Noite

De noite faz sol.
De dia faz lua.
De dia faz noite.
De sol faz-se a lua.

De sol faz-se a noite.
De lua, à dias.
À noite faz sol.
Faz lua, de dia.

Hoje, sol e lua.
Amanhã, lua e sol.
Ontem, houve lua.
Hoje, o ouve só

e

Cheio de oxigênio !
Cheiro o oxigênio.
Chaga de oxigênio !

Dia, noite e dia.
Ontem, hoje e ontem.
Haverá, há e havia.
Dia, noite e dia.

A Máquina

_Bom dia.
_Bom seria se fosse algo que não fosse noite ou dia.
_O que te aflige?
_É o cru dessa cidade que, não vive, apenas finge.
_Talvez você não a conheça direito.
_Talvez a culpa seja do prefeito.
_Que nada, Companheiro, o buraco é mais embaixo.
Deixa-me te mostrar o que é que eu acho.

...

_ Veja só, eis, então, a grande cidade.
_Daqui de cima não aparenta a pouca idade.
_Mas, acredite, é verdade. É ela, com todo horror e iniqüidade.
... _ Lá estão os urubus. O que será que estão fazendo?
_Devem estar aqui pelo cheiro.
_Eu diria que: não! Daqui do céu não ouvem o Samba-Canção.
Quem são aqueles, felizes, ali no chão?
_Aqueles ali?! ... Aqueles são meus amigos !
Ouça o que cantam:
_Somos a turma que mais... !
_Você fuma?
_Nunca o fiz... Mas, por quê não?!
_Ai você falei ! ... Vai descobrir o doce, que é a vida, assim como eu o achei.

...

_Verdade, me sinto mais leve. De agora em diante, que o vento me leve.
_Mas, tome cuidado para não se exceder.
_Que diferença, se um dia hei de morrer? ... Logo, amanha, estou partindo. Vou voltar no tempo perdido.
_Tens alguma máquina para tal proeza? Se tens, me leve para onde há natureza !
_Se eu bem tivesse, levaria. E voltaria, bem mais que um dia. Um século... um mês ... três vidas, ou mais. Voltaria a ser um feto. Deixaria de ser um inseto e...
_Quanta insensatez... Se tal máquina não possui, pare de sonhar. Só te resta a morte... a sorte !

...

_Talvez, se tivermos sorte, A Máquina seja a morte.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cão-çado

Poise.. é que...

Você anda meio amarga.
Mas, vive fazendo doce.
Você não é A minha amada,
mas, quisera eu que fosse.

O seu bem eu bem queria, bem.
Mas, nem posso ir além.
Além disso, como vai você?
poise, eu também.

Nem centopeia da tantas patadas
e nem uma pedra aguenta tanto.
Nas suas cores misturadas
eu só vejo preto e branco.

Vai ver, um dia eu ainda morro...
Vai ver sou mesmo um cachorro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sinestesia Geral

- Te restam poucas horas de vida...
- Me dê um sinestésico doutor!

E de repente
Tudo pára!

Sinto bater em minha cara
O vento que vem de longe
E me conta ao pé do ouvido
Notícias de longe de lá

Me abraça todo o corpo
Como que pra me proteger
Olha em meus olhos
Nos seus um medo de dizer

- Fala Vento!
O que te trouxe aqui tão longe?
Certamente que não o meu desejo
O que te fez vir me ver?

O cheiro acre de podridão
Mil corpos em decomposição
Em meio deles, uma cor tão suave
De teu perfume, grande, imensa saudade

- Trago para ti todos os teus planos
Alguns divinos, outros humanos
E te faço apenas uma pergunta:
Por que os abandonaste?!

-Não foi esta a intenção!
Por favor, acredite!
Não havia o que eu pudesse fazer
Foram outros que os jogaram na prisão!

Vejo minhas mentiras
Rechaçarem em seus olhos
Quem sou eu para enganar
O Tempo e o Vento?

Escuto a cor dos seus cabelos
Se afastar para longe
Morro só, abandonado
Pelos meus sonhos, por não ter amado!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cem Dramas

E...
hoje, até a lua estava mais perto.
Na sua boca havia, eu via, meu deserto.

a fumaça do insenso...
eu quase sem senso... meu sensor
Censurado !

E nem sem roupa estou,
nem um olhar se comeu.

...não me mordia,
minha mente ardia.

Seu paradoxo é meu paradigma.

Mesmo sem você, ainda sou eu.
só, eu, nescessito de um trago seu.
Somente eu sou só nós.

Talvez seja muito para o seu faro.
Talvez meu pouco custe caro.

Mas,

S ou eu,
O solene e sonolento.
S ou eu,

seu sono lento.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Goiabada

Nasceu, cresceu, morreu
Cumpriu todos os seus deveres
Não procriou, coisa de pouco importância
Pra que tanto narcisismo?

Viveu...

Dias bons e dias ruins
Chuvas intensas e um pleno Sol
Brincadeiras, jogos e afins
Momentos de orgulho, momentos de dó

Sentiu crescer dentro de si
Algo estranho, tão diferente
Algo que batia forte
Ao ver aquele pedaço de gente

Guardava palavras e sentimentos
Até que as voltas do mundo
Lhe trouxeram uma surpresa

Olhares tímidos em pedaços de ar
Passos tortos à caminho do céu
Foi um banho gelado de mar

Indiferença salgada
A traição tecida com fios de nuvem
Crueldade nos detalhes do falar

Ao primeiro que deixou que entrasse
Dirigia agora apenas seu ódio e rancor
Maldita alma que de amor gritou
Bendito ferro que o grito calou

O beijo frio
O mais doce da sua vida
Chupava todo o calor
De seu corpo pela nova ferida

Finalmente conseguiu
Pôr cor àquela vida cinza
Vermelho tingia o amor
Negado por todos, querida

Nasceu, cresceu, morreu
Cumpriu todos os seus deveres
Se levantou devagar, estava vida
Foi apenas um sonho, tudo continuava cinza

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Joelhos

Até quando seguirá esse embate?
Essa contenda sem fim,
Esse grande combate?
Cujas armas são silêncio e solidão
Brutalmente usados, como armas de um vilão

E serão duas cabeças a se bater
Duas cabeças que pensavam juntas
Esvaziando pensamentos
Em linhas jogadas a esmo
Flutuando sobre memórias

Até mesmo sob o céu laranja
Da sucursal do inferno
Era capaz de deixar tudo pra trás
E nem mesmo pelo espelho ousava olhar
Todas as coisas que guardei de ti

E as palavras, por mais belas
Mais trabalhadas ou sinceras
Nunca a chegarão aos teus ouvidos
Nem tímidas nem austeras
Até quando vai durar nosso silêncio?

Espero pra ver
Orgulho intacto
Coração partido

Zen

São espaços vazios
Um rio cheio de certezas passageiras
Sem uma pedra, um porto, um cais
Sem o que dizer pra explicar o que faz

Devorando de dentro pra fora
Levanto os pés inexistentes
Vou-me embora

Terra de mil maravilhas
E bocas, nenhuma
Sem palavras para perturbar a paz
Sem beijos para querer mais

Matar o amor
Torturar a saudade
E o vazio prevalece
Nirvana


Vazio.


Um tanto quanto tedioso
Foi meu delírio de grandeza
Estou melhor pequeno
E cheio de certezas

Cheio de sentimentos
Fúteis e mesquinhos
Ao menos estou vivo

Liberdade

Como passam, rápidas, as pessoas pela praça...
Passam, rápidas, enquanto a núvem passa.
Pássaros também passam pela praça.
Passos lentos dou de pirraça.

Se essa praça, se essa pressa,
fosse minha...
eu me mandava, me mandava de lá.
Eu iria de viajem para a lua,
onde o tempo, tempo, passa devagar.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sim...

Simplesmente
Nada mais se sente
Pulsar na gente

Entretanto
Tudo que se faz
Vira pranto,

Bolha de sabão
Em máquina de lavar
Olhos de Cristal
Sonhos pra sonhar

Notas pra se ler
Cores pra cheirar
Simplesmente só
Sozinho se amar